sábado, 27 de novembro de 2010

O POVO Online - Ceará - Comunidade descobre tesouro arqueológico

O POVO Online - Ceará - Comunidade descobre tesouro arqueológico

Comunidade descobre tesouro arqueológico

Famílias que moram na Serra do Evaristo encontraram urnas mortuárias que acreditam ter sido de tribos indígenas que habitaram no Maciço de Baturité
Os potes estão guardados no espaço cultural da capela e na casa de um morador da comunidade (FOTOS DEIVYSON TEIXEIRA) O local é de difícil acesso. Não fosse o trator enviado pela prefeitura para melhorar a estrada de terra batida não se conseguia chegar à Serra do Evaristo que fica a oito quilômetros da sede do município de Baturité. A comunidade, formada por 120 famílias, muitas vezes já ficou ilhada em períodos chuvosos quando o rio Jordão encheu interrompendo a passagem.
Mas quando se chega na pracinha da capela de Nossa Senhora da Conceição logo se nota o tesouro que a comunidade quilombola guarda. Grandes potes de barro, as chamadas urnas mortuárias usadas por tribos indígenas, foram encontrados, mas poucos foram preservados. Dois se encontram no espaço cultural ao lado da capelinha (um deles protegido por uma redoma de vidro) e outro, o maior deles, na casa de um morador da localidade.
“Estamos tentando resgatar esse patrimônio histórico. Nossos avós nos contam que, quando chegaram por aqui, havia uma tribo indígena cujo chefe se chamava Evaristo, por isso é que o lugar ganhou o nome de Serra do Evaristo”, relata o agricultor Vilson José Soares, 38, que é uma liderança na comunidade.
Ele é um dos mais interessados em não deixar morrer as tradições do lugarejo que, na época da escravidão, foi um refúgio de escravos. Um quilombo, local que abrigava ex–escravos fugidos de seus senhores desde os primeiros tempos do período colonial. Na maioria eram afrodescendentes (negros e mestiços), havendo minorias indígenas e brancas.



Tradições

Toda a historia que antecedeu a atual comunidade, Vilson diz que vem sendo repassada para os mais jovens. “Há cinco anos percebemos a necessidade de preservar nossas tradições, nossos costumes, nossa cultura. Muito se perdeu em anos passados. Sabemos que encontraram outras urnas mortuárias, lanças, objetos que poderiam estar guardados, mas foram desperdiçados”, relata.
E muitos tesouros ainda estão debaixo da terra onde as famílias quilombolas construíram suas moradias. Basta caminhar nas ruas de terra batida ou visitar os quintais das casas para perceber bordas de potes (urnas mortuárias) que começam a “florar”. Vilson até acredita que habitam em cima de um grande cemitério indígena.
“Queremos descobrir esses tesouros e guardá-los na comunidade. É a nossa história”, diz Vilson. Ele acrescenta que os mais velhos estão ensinando para os jovens e crianças as tradições, as danças, a culinária. “Já tivemos contatos com historiadores, comunidades de outros estados como o Piauí e queremos continuar esse trabalho de resgate”.



Onde

ENTENDA A NOTÍCIA
A Serra do Evaristo, no Maciço de Baturité, é um dos sítios arqueológicos do Ceará que ainda não foi visitado por técnicos do Iphan. É uma área rica em achados dos nossos ancestrais que precisa ser estudada e conservada.

SAIBA MAIS

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estima que existam 2,5 mil comunidades quilombolas no Brasil – dos quais cerca de 1,7 mil foram reconhecidos pela Fundação Palmares.

Associações e tradicionais contabilizam a existência de mais de 4 mil territórios.
No Ceará, o Incra realiza o mapeamento das áreas e existem mais de 20
processos em tramitação.

Os primeiros processos que determinaram o reconhecimento de comunidades no Estado foram concluídos em 2008. Foram reconhecidas as comunidades de Alto Alegre e Base, nos municípios de Horizonte e Pacajus, e a de Queimadas, em Crateús.

A comunidade da Serra do Evaristo também já é reconhecida como remanescente de quilombos e, como as demais, vive da agricultura de subsistência.
Fonte: O Povo, 27/11/2010